sábado, 3 de janeiro de 2009

Deita

Deita-me à tua sombra mulher
Finge que por ao menos um mínimo instante fui teu

A verdade é que olhos ao olhar pra teu semblante
Viram apenas o que estava oculto,
se preocuparam tanto com as profundezas
que se esqueceram da superfície

Deixe-me descansar em teus braços,
Faz um esforço em pensar que assim permanecerei

Eu nunca te quis olhar como olhei,
Nunca te quis ver como vi, mas desnudo já desde tão cedo...
Não tive escolha, e hoje, agora
Não sou nada além de um já passou.

Deixe-me fingir-te a felicidade uma última vez,
A felicidade que nunca alçou vôo sobre a minha cabeça
A felicidade que por não ser ave de rapina nunca se interessou
Na minha carne sempre a mostra, carne que já nasceu decomposta

Deixa eu te dar um último olhar,
aquele que persegui a minha vida inteira
o olhar despretensioso, de quem já chegou
de quem já cumpriu, de quem já gozou

depois disso, pode deitar-se à sua cova e,
então, fazer cumprir teu desejo, aquele
de sumir de minha memória, de sumir
com a minha memória, com a minha vontade de ti.

Um comentário:

Anônimo disse...

belas palavras...rs