quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Este urra, retumba, ecoa, parindo sentimentos
que dançam ao som dessas canções
Minhas costelas vibram com cada nota
Eis que torno-me escrava desse parimento
intermitente, convulso, incontrolável.
Já não caibo mais em mim...
Também quero virar canção
viajar junto ao vento
sorrir em cada rodopio
florear entranhas
sussurrar poesia em cada esquina.
Michele de Assis
O Noivo
Noivo de minha solidão espreito a um outro dia
Querendo ser mais do que ser, quero agonizar no gozo
O gozo da fortuna, do acaso, daquilo que ainda não é
Do que sou.
Gosto de ter entre os dedos a mais impura das águas
Aquela que desce dos céus de uma selva irrazoável, humana
Toda cidade me traz ao peito a angustia de minha solidão possível
Da minha companhia maculada, da TV que não assisto
Do que poderia ser aquele que não sou.
Quero saber da minha alma que anda perdida em meio às saias
Saias que pertencem às namoradas que não tive
E não tive por que não quis, nosso tempo foi adiado
Adiado pela comoção de uma poesia vadia, sem rumo
Vago em desvarios, como se não fosse pra ser
Mas é, e por ser já merece as reverências
Todas prestadas por quem não conhece o que conheço
Pelo que há de vário em ser
E pelo que há de absoluto em não ser.
Victor Azevedo
domingo, 2 de novembro de 2008
As Águas do Rio (poema do mês de novembro de 2008)
As Águas do Rio
Bertolt Brecht*
Por mais que olhes o rioQue corre pesadamente diante de ti,
Nunca verás as mesmas águas.
Nunca regressa a água que passa.
Nem uma só gota
Volta à sua nascente.
*Nascido Eugen Berthold Friedrich Brecht na Baviera, Brecht estudou Medicina e trabalhou como enfermeiro num hospital em Munique durante a Primeira Guerra Mundial. Filho da burguesia, sofreu, como todos em seu país, a sensação de desolamento de encarar um país completamente destruído pela guerra.
Depois da guerra mudou-se para Berlim, onde o influente crítico, Herbert Ihering, chamou-lhe a atenção para a apetência do público pelo teatro moderno. Já em Munique, as suas primeiras peças (Baal (1918/1926) "Tambores na Noite" Trommeln in der Nacht(1918-1920) ) foram levadas ao palco e Brecht conheceu Erich Engel com quem veio a trabalhar até ao fim da sua vida. Em Berlim, a peça Im Dickicht der Städte, protagonizado por Fritz Kortner e dirigido por Engel, tornou-se o seu primeiro sucesso. (wikipedia)