segunda-feira, 14 de julho de 2008

Tristes Máquinas

 

















(Le paysan (Peasant) de Paul Cézanne)

Tristes máquinas somos nós; mortos infames.
Em nós, toda ternura dissipa, todo amor apodrece.
Será preciso invocar nosso deus moribundo e triste,
Para que (sobre nossa cova) jogue uma pá de cal?
Derradeiros sonhos de um querer desatento,
Vivemos, sofremos; palhaços incautos que somos,
Que seremos... Que seremos?
Senão a voz de um futuro intragável,
De uma nefasta orgia, impura e cristã.
Abomináveis homens, sacerdotes da explicação.
Não há nada a explicar! É preciso viver,
Ou encarar a nulidade do ser, do ter, de tudo.
Máquinas mortas, sem energia, sem fé...
Fé em deus, em não-deus, em talvez-deus,
Em nunca-deus, em adeus, em alguém,
Em ninguém...
Máquinas-vermes incapazes de amar, de pensar...
Parasitas da arte e da poesia, parasitas da divindade.
Pro inferno com nossa dependência!
Ou pro inferno conosco!
Pra onde quiserem, somos máquinas.
Somos máquinas no mais intimo de nosso ser,
No mais intimo do não-ser, somos máquinas.
Eu percebo que o somos, bem no meio de nossa merda,
De nossa impotência prepotente e dependente.
Ó tortura vã, por que nos destrói?
Mate-nos já, e salve nossa humilhada alma em desgraça.
Mate-nos já, e reine sobre os porcos por toda a eternidade.

Autor: Luciano Machado Tomaz

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